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Foto do escritorRicardo Lengruber

São João


Num tempo de espetáculos e vaidades, a memória de João, o Batista, é mais do que inspiradora, necessária. João remava contra a corrente. Caminhava solitário pelo deserto. Apontava os equívocos das lideranças constituídas nos palácios e anunciava uma espiritualidade profundamente desprovida da pompa dos templos. Vestia roupa simples e comia com singeleza e desprendimento. Seus gestos e palavras estavam repletos de anúncio, denúncia e renúncia. Quando fora procurado por Jesus, não se furtou de batizá-lo. Sabia da potência da política dos gestos simbólicos. Mas soube reconhecer seu lugar: "importa que eu diminua e ele cresça". Teve sua cabeça cortada e servida numa bandeja. Mas viveu pleno e feliz porque descobriu seu lugar. Desde o ventre de sua mãe, quando remexeu a barriga de Isabel ao se encontrar com Maria, já grávida de Jesus. Sinceramente, acho que esse é o grande desafio da vida. Descobrir-se e descobrir seu lugar.

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