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A quem interessa a criminalização da política?


O atual cenário político brasileiro é desafiador. A instabilidade é um ingrediente com o qual acostumamos a viver no país. 

Não bastasse a falta de direção e de um projeto consistente de sociedade, todos os dias há notícias de prisões e delações que denunciam o subterrâneo de uma prática política que mais se assemelha ao crime organizado e à formação de quadrilha.

Há uma mescla de revolta, impotência e medo. 

Diante disso tudo, é razoável que haja muitos discursos sobre ‘renovação’. Há uma unanimidade quanto aos desafios que nos esperam nas eleições de 2018. Aliás, tem se alimentado quase que uma utopia quanto as próximas eleições.

E aí surgem problemas e desafios sérios. O primeiro tem a ver com o fato de ser o sistema político-eleitoral brasileiro desenhado para perpetuar personagens. Por mais que se queira, é difícil furar o bloqueio. E esses personagens representam mais o que grandes cooperações intencionam do que o que eles próprios pensam. Ainda vivemos sob o as amarras do coronelismo. 

O Estado tem sido uma espécie de comitê para atendimento de interesses de grupos cada vez mais específicos em detrimento das necessidades e direitos da coletividade.  Segundo porque não há cultura de participação política no país. Embora haja muita indignação nas horas dos escândalos, o fato é que há pouca mobilização para superação dessas situações. Na prática, temos pouca ou nenhuma participação; nos bairros, nas escolas, nos conselhos, nos partidos.

O que se tem percebido, ultimamente, é que os escândalos são cuidadosamente esculpidos pelo próprio sistema político mais amplo. Diante da crise de representação, vale até mesmo entregar uns personagens para salvar o sistema. 

E aqui vale uma reflexão: combater a corrupção é imperativo. Ou superamos essa chaga na sociedade brasileira, ou seguiremos patinando na lama da ineficiência dos serviços públicos. Por outro lado, porém, criminalizar a prática política (em si mesma) é um sofisticado subterfúgio para macular a imagem do “político” e apresentar nomes “novos” que se incumbiriam de “renovar a política”.

Na prática, isso é mais um expediente do sistema político tradicional e das grandes oligarquias nacionais do que um vento mesmo de renovação. Mudar o rosto da foto é um jeito de manter as coisas como estão. Mudam-se os nomes, mantém-se os esquemas. 

Alimentar o medo é uma excelente estratégia de apresentar soluções mágicas.  Não há esperanças reais para 2018. Nada se transformará substancialmente. No máximo, haverá mudança de nomes, mas não de plataformas que efetivamente mudem a direção do país. Basta ver os nomes que andam arvorando mudança. Nada de novo sob o sol. Aliás, há coisa até pior querendo colocar o nariz de fora. Se não se construir no país uma cultura de efetiva e crítica participação, nada mudará. E participação supõe efetivo compromisso dos cidadãos no acompanhamento, na sugestão, no diálogo, na cobrança, na fiscalização e na denúncia. O voto deve ser apenas expressão de algo que o transborda: a afirmação da participação na construção de um projeto. Fora disso o que há é propaganda; e disso estamos todos fartos. Em tempo: apesar de ser 2018 o que está no horizonte mais imediato, eu considero que o que seja mais dramático na vida do cidadão brasileiro sejam as eleições municipais. É na cidade que as pessoas vivem realmente. E deve ser nas cidades que deve ocorrer a mudança.  2020 será nossa oportunidade. Precisamos hoje começar a construir candidaturas que furem o esquema e se preocupem efetivamente com as pessoas e suas demandas. Em quem vamos votar? Em quem aplacar nosso medo? Cuidado: ele mesmo pode ter inventado o medo para nos salvar dele. 

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