Você sabia que Nova Friburgo é a única cidade do Brasil que tem escolas de Pedagogia Waldorf na sua rede pública?
Pois é ... mas isso pode acabar.
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Uma sociedade se distingue por sua “escola”. Quanto mais atento à educação de sua crianças e jovens é um grupo social, mais chances tem de avançar em todos os aspectos que efetivamente importam.
Nova Friburgo tem uma tradição invejável em Educação. Desde o século XIX, a cidade mescla iniciativas confessionais, privadas e públicas. Muitos (e muito bons) são os exemplos de escolas e educadores que tornaram a cidade bem posicionada nesse quesito.
Fazer a lista seria correr muito risco de deixar de citar tanta e tanta gente atenta e dedicada a esse imenso empreendimento que é educar. As centenas (milhares) de pessoas envolvidas ao longo do tempo, todavia, não se resumem em si mesmas, mas também na pluralidade de projetos político-pedagógicos que a cidade experimenta. E isso é muito bom: educação de qualidade é necessariamente educação plural.
A escola Waldorf inaugurada na cidade na década de 90 e incorporada à rede pública municipal de escolas de educação básica nos anos 2000 é a prova de que essa tradição teria tudo para transbordar. Foi um gesto corajoso da então secretária de educação Beatriz Abicalil (integrante de um governo notadamente de mulheres) encampar numa rede pública uma escola tão diferenciada em sua Pedagogia. Há duas escolas: Vale de Luz e Cecília Meireles.
A Pedagogia Waldorf é uma abordagem baseada na filosofia da educação do austríaco Rudolf Steiner, fundador da antroposofia. Procura integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos educandos. O objetivo é cooperar na formação de indivíduos livres, integrados, socialmente competentes e moralmente responsáveis.
Admitir na rede pública uma ou duas escolas dessa natureza é, além de coragem, visão de mundo que supera o entrave cotidiano da gestão pública; enxerga a rede de educação para além de orçamento, prédio e partido político.
Há gerações formadas nessa metodologia. E os “resultados” são excepcionais. Mais sensibilidade, cordialidade e amorosidade. Muita música, artes plásticas, sustentabilidade e uma série de outros saberes e sabores que facilmente são negligenciados pela escola tradicional encaixotada nos esquemas dos “gestores”.
E um dado interessante: a comunidade de pais sempre foi muito envolvida com a escola e seus desafios. Tanto que conseguiram fazer ampliar a oferta. Em 2016, houve a abertura do segundo ciclo do ensino fundamental.
Projeto, infelizmente, que periga ser estancado sem sequer concluir a primeira turma do nono ano. Parece haver iniciativa do atual governo em não abrir turmas dos anos finais na Escola Cecília Meireles.
Isso não poderia passar despercebido pela comunidade friburguense. Uma cidade se distingue por sua escola, especialmente por sua escola pública; e uma escola que seja plural e ousada.
Nova Friburgo tinha tudo para celebrar seus 200 anos ostentando ser a única cidade com uma Escola Waldorf em sua rede pública.
Mas, é sério? Vamos perder também essa oportunidade?
Quero crer que o governo reconsiderará. E que haverá entre os empolgados com os 200 anos quem defenda uma cidade cujo maior valor sejam suas futuras gerações em escolas que as permitam ser livres e felizes.
Quero crer.
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É claro que há questões na governança das unidades que precisam sempre ser revistas e reavaliadas. Mas nada dessa natureza pode justificar a não abertura de turmas e a não continuidade dos estudos dos alunos que lá estão matriculados. Até porque governança se resolve; falta de escola, não.
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